Projeto trabalha com a música para humanizar mulheres presas
Cristina Ferreira, 41 anos, sonha com o dia em que seus alunos possam ouvi-la. Arinete Silva, 27 anos, está nervosa com a apresentação. Janúzia Correia, 30 anos, se sente emocionada. Elivani Rodrigues descobriu aptidão para o violão e Carmiane Ferreira, 22 anos, participava dos cantos da igreja. As histórias dessas cinco mulheres se somam às trajetórias de outras 17, que ensaiam para o pré-lançamento do primeiro CD do projeto Dó Ré Mí Faz Melhor, marcado para 18h de hoje, no Fórum Cível de Belém. O nervosismo do coral também é alimentado por outra estreia: na noite de sábado, durante a Trasladação, elas se apresentarão no momento da passagem de Nossa Senhora de Nazaré, em frente aos Correios. O repertório será de músicas religiosas, como "Eu Sou de Lá", "Virgem de Nazaré" e "Ave Maria".
"A gravação do CD foi uma experiência muito boa. Conseguimos um belo trabalho. Nunca imaginei fazer isso. Eu já gostava de cantar na igreja. Me sinto feliz e orgulhosa", contou Arinete Silva.
A música, para esse grupo de mulheres, é uma forma de amenizar as dificuldades, no dia a dia do cumprimento de penas. Das 22 mulheres do coral, quatro estão no regime semiaberto e 18 no fechado, no Centro de Recuperação Feminino (CRF), em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém.
O projeto Dó Ré Mí Faz Melhor integra o programa Começar de Novo, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), desenvolvido pelo Tribunal de Justiça do Pará (TJPA).
"Soube do projeto através das colegas do estudo e foi maravilhoso cantar. A música limpa a alma, dá inspiração. É muito bom sair da cela. Que bom que surgiu a oportunidade. Esse momento foi muito mais de reflexão para querer a mudança. É preciso ter muita força de vontade para superar as dificuldades que passamos dentro cárcere e a distância da família", afirmou Janúzia Correia. As informações são da assessoria de imprensa do TJPA.
ENSINO
A missão de conduzir as 22 vozes fica a cargo do sargento músico Abiézer Monteiro, também maestro do Coral Desembargador Delival Nobre, do TJPA. Os ensaios ocorrem diariamente no setor educativo do semiaberto do CRF, pela manhã. "A música trás benefícios incalculáveis para a conduta de ressocialização", afirmou o maestro.
Monteiro explicou que novas coralistas recebem aulas de técnica vocal, aquecimento, respiração, impostação, percepção de notas e afinação de voz e de naipes. O projeto começou em 2007, inicialmente com homens do Presídio Estadual Metropolitano de Americano (PEM I) até 2008. No ano seguinte, foi iniciada a experiência com as mulheres e permanece até hoje. A produção e concepção do CD ocorreram em um ano e seis meses.
O objetivo da produção fonográfica é trabalhar com os hinos e músicas regionais. "A maioria não conhece o seu hino e a ideia é distribuir para escolas públicas essas seis mil cópias produzidas. Nosso objetivo não é formar cantores. O resultado social é o novo olhar para a sociedade", ressaltou o maestro, esclarecendo que o CD tem oito faixas de músicas, sendo seis de hinos e duas de músicas regionais. Hino Nacional, Hino do Pará, Hino de Belém, Hino de Ananindeua, Hino de Marituba, Hino de Bragança e as músicas regionais "De Banjo na Mão", de Pedrinho Callado, e "Sabor Açaí", de Nilson Chaves.