Tribunal concluiu 1ª fase de julgamento dos acusados de matar o engenheiro Raimundo Lucier
O Tribunal de Justiça do Estado concluiu ontem a fase instrutora do caso do engenheiro e professor universitário Raimundo Lucier Marques Leal Júnior, de 59 anos - assassinado há mais de um ano na avenida Duque de Caxias. Durante a audiência, foram ouvidos os réus Edmilson Ricardo Farias, acusado de cometer a execução, e o engenheiro Carlos Eduardo de Brito Carvalho, que responde a acusação como mandante do crime. Os acusados deram um depoimento diferente do que foi prestado à Polícia Civil. Naquela ocasião, ambos confessaram participação, e agora eles alegam que foram torturados e forçados a admitir a autoria da morte.
A promotora de Justiça Rosana Cordovil afirma não ter ficado surpresa com a mudança nas declarações. “O que Carlos falou já era esperado. Na época, ele não tinha alternativa, mas nessa fase do processo ele sabe que uma confissão reforçaria a tese. No caso do Edmilson, ainda foi positivo, pois ele acabou provando que ele e Allan, o mototaxista, se conheciam. Ou seja, prova que havia um elo de ligação entre eles, e isso é o que a promotoria tenta provar. A mudança não muda nada, mesmo porque as provas são mais que suficientes contra os três”, assevera.
A promotoria vai pedir a pena máxima por homicídio duplamente qualificado - por motivo torpe e sem possibilidade de defesa da vítima.
Carlos Brito afirmou que só confessou o crime após sofrer tortura e ameaças. “Disseram para eu escolher ser preso sozinho ou com a minha mãe. Por temer por ela, que tem 80 anos, decidi assinar o depoimento. No dia do crime só saí de casa à tarde. Fiquei sabendo do ocorrido depois, quando comprei o jornal Amazônia”. Ele também negou conhecer os demais réus do caso. Por causa da acusação de tortura, o réu passara por exames periciais.
Já Edmilson Farias, 24 anos, negou ser o executor da vítima e acusou Allan Franklin Ferreira Rego, o mototaxista acusado de dar fuga para o assassino, de tentar incriminá-lo após uma briga por ciúmes de uma namorada. “Ele deu em cima da minha namorada e eu briguei com ele. Moramos um perto do outro em Benfica. Desde aí, nunca mais falei com ele. Eu ouvi um boato, na época, de que ele e o comparsa, um homem chamado Elielson Seabra, haviam assassinado alguém em Belém”, diz. Farias já foi condenado por receptação.
Os depoimentos ocorreram na segunda parte da audiência de instrução do caso, que teve início no dia 25 de setembro, mas não pôde ser finalizada após uma interrupção no fornecimento de energia elétrica no tribunal. Na semana passada, foram ouvidas oito testemunhas de acusação e duas de defesa e o réu-confesso no processo, o motoqueiro, Allan Franklin Ferreira Rego. Ainda serão ouvidas por carta precatória as outras cinco testemunhas da promotoria. O procedimento será diferenciado porque eles residem em Benevides.
RELACIONAMENTO
Em depoimento, Carlos Brito, 40 anos, acusado de ser o mandante do crime, disse que tinha um bom relacionamento com a vítima, e que não havia conflitos de interesses profissionais entre os dois, já que apesar de serem engenheiros, as áreas de atuação eram distintas - a vítima era engenheiro mecânico e o acusado engenheiro químico - e não disputavam clientes.
“Ele pediu para assumir o cargo de coordenador, pois viu que eu estava muito atarefado. Além de atuar no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), também cursava o 10º período do curso de Direito. E eu aceitei sair”, disse Carlos Brito.
O acusado e a vítima eram membros da Câmara Especializada em Mecânica, Metalúrgica e Engenharia Química, coordenada por Carlos Brito na ocasião do crime. Uma das testemunhas da promotoria, afirmou que os demais membros do conselho estavam descontentes com o desempenho do acusado e solicitaram a saída dele do cargo. Um dos profissionais que questionava a falta de assiduidade de Carlos Brito era justamente o professor universitário Raimundo Lucier.